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A história por trás da luta

  A guerra civil tem a participação de milícias e exércitos de países vizinhos e já deixou cerca de 6 milhões de mortos e desaparecidos. O conflito do Kivu ocorre entre três forças inimigas: as forças armadas da República Democrática do Congo (FARDC, grupo governamental formado por grupos de etnia tusti), o grupo Hutu Power das Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR, grupo de hutus de Ruanda) e o Congresso Nacional para Defesa do Povo (CNDP, da etnia tutsi). Por conta da situação de conflito, a ONU busca auxiliar a República Democrática do Congo por meio de ajuda humanitária, tratando da malária, sarampo, cólera e desnutrição, infecções e traumas. Contudo ainda são freqüentes as chacinas de homens, estupros de mulheres e sequestros de crianças para servirem de soldados nos grupos rebeldes.

   Mireille fugiu do Kivu do Sul, província do Congo, por conta dos inúmeros conflitos armados que acontecem há quase vinte anos. Ela soube de diversas barbaridades cometidas pelos grupos de rebeldes que estão em busca das reservas naturais do Congo. Dentre elas há o estupro das mulheres seguido de assassinato, assistido pelo marido e pelos filhos. Além disso, ela conta que os rebeldes forçam os pais a transar com os filhos. Casos eles não obedeçam às ordens são mortos. “Nesse momento várias mulheres estão sendo estupradas. Precisamos denunciar esses casos e buscar formas de ajudar as pessoas. Você pode imaginar o trauma que a criança carrega ao assistir a morte da família toda?”

     

 

 

 

 

 

  Em 4 de Setembro de 2014, ela veio para o Brasil com a irmã sem moradia ou trabalho. Sem ter notícias do restante da família, Mireille precisou batalhar muito para arrumar um emprego e se comunicar em português de forma compreensível. Quando ela chegou ao Brasil não sabia falar nada da língua nativa. A sorte de Mireille foi encontrar outros congoleses que poderiam conversar em francês, língua oficial do Congo. Foi por conta da ajuda dessas pessoas que ela conseguiu tirar o visto e se virar no aeroporto, logo quando chegou. Depois de sair do aeroporto, Mireille foi com a irmã para a Polícia Federal para solicitar refúgio. O procedimento consistia em responder perguntas em relação aos motivos pelos quais saiu do país de origem e depois era recebido um protocolo.

  Em busca de um emprego, Mireille tirou carteira de trabalho, fez CPF e iniciou o curso de português. Mas, a realidade era bem mais difícil do que ela imaginava. Quando foi concorrer para uma vaga de emprego em Copacabana, ela conta que foi barrada por não saber falar o português fluente. “Quando vim para o Brasil me senti como uma analfabeta. Não conseguia fazer nada sozinha, muito menos arrumar emprego”. Hoje ela trabalha na Cáritas como interprete, pois fala sete línguas e dialetos.

“Você pode imaginar o trauma que a criança carrega ao assistir a morte da família toda?”

Mireille conta a história de vida dela para alunos de escola pública. Foto: Cáritas RJ
Mireille Muluila
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